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01/03/2023Delirium: Entendendo a Condição e seu Impacto na Saúde dos Idosos
Introdução
Delirium, palavra originária do latim deliro-delirare, significa “estar fora do lugar”. O termo foi introduzido na literatura médica por Celsus no século I d.C para descrever alterações mentais durante episódios de febre ou trauma craniano. No entanto, Hipócrates já usava termos que descreviam uma síndrome semelhante desde 500 a.C.
História do Delirium
Durante a Idade Média, Procopius descreveu sintomas compatíveis com o conceito moderno de delirium hipoativo, como alucinações, agressividade, excitação e insônia, que precediam o surgimento de doenças como a peste bubônica. No final do século XVIII, James Sims publicou um artigo médico diferenciando delirium de loucura e descrevendo as formas hipoativas e hiperativas da doença. A partir do século XIX, delirium passou a ser reconhecido como uma doença reversível da cognição e do comportamento, associada à disfunção cerebral, decorrente de inúmeras alterações orgânicas.
Definição de Delirium
Delirium é uma alteração cognitiva caracterizada por início agudo, curso flutuante, distúrbios da consciência, atenção, orientação, memória, pensamento, percepção e comportamento. Pode ocorrer na forma hiperativa, hipoativa ou mista e pode acometer mais de 50% de idosos hospitalizados. É considerada uma emergência geriátrica e está relacionada a períodos mais prolongados de hospitalização, maiores taxas de mortalidade e maior taxa de institucionalização.
Fatores Predisponentes e Precipitantes
é, usualmente, uma condição multifatorial. Em alguns casos, pode ser desencadeado por um fator isolado, mas é mais comum a inter-relação entre fatores predisponentes e precipitantes. A demência é o fator predisponente mais bem identificado, elevando em 2 a 5 vezes a chance de desenvolvimento de delirium. Entre os fatores precipitantes, os medicamentos são os mais comuns, estando implicados em até 40% dos casos.
Quadro Clínico
As principais características do delirium são o início agudo e a atenção prejudicada. O estado mental tipicamente se modifica em horas a dias, diferentemente da demência onde ocorre mudança em semanas a meses. Outro aspecto característico do delirium é o curso flutuante, com tendência a períodos de melhora e exacerbações dos sintomas durante o dia.
Diagnóstico
O diagnóstico de delirium é eminentemente clínico, realizado à beira do leito, por meio de avaliação cuidadosa e história clínica colhida na maioria das vezes com um informante confiável, geralmente o familiar ou cuidador.
Diferenças entre Delirium e Demência
Embora delirium e demência possam parecer semelhantes à primeira vista, devido a sintomas comuns como confusão e desorientação, eles são condições distintas com características e causas próprias. A principal diferença entre delirium e demência reside na velocidade de início e na reversibilidade dos sintomas.
O delirium é caracterizado por um início súbito, geralmente dentro de horas ou dias, e os sintomas podem flutuar ao longo do dia. É considerado uma condição médica aguda e é, muitas vezes, reversível se a causa subjacente for identificada e tratada adequadamente.
Por outro lado, a demência é uma doença crônica e progressiva, que se desenvolve lentamente ao longo de meses a anos e causa um declínio persistente e geralmente irreversível na função cognitiva. A demência afeta principalmente a memória, o pensamento, a orientação, a compreensão, o cálculo, a capacidade de aprendizado, a linguagem e o julgamento.
Além disso, enquanto o delirium é frequentemente causado por uma condição médica aguda ou intoxicação por medicamentos, a demência é geralmente causada por doenças como Alzheimer, Parkinson ou acidente vascular cerebral. É importante notar que um indivíduo com demência pode também desenvolver delirium em resposta a uma doença aguda ou alteração no ambiente.
Tratamento
O tratamento do delirium envolve a identificação e o tratamento da causa principal, quando possível.
Existem duas abordagens principais:
- não-farmacológica
- e farmacológica.
Tratamento Não-Farmacológico
Essa etapa deve ser aplicada a todo paciente acometido por delirium. Inclui estratégias de reorientação e intervenção comportamental, como permitir a presença de familiares como acompanhantes, orientações ao paciente, transferência de paciente para quarto privado, mais calmo ou mais próximo à equipe de enfermagem para melhor supervisão e suporte.
Tratamento Farmacológico
Deve ser reservado aos pacientes com agitação mais importante, ou que estejam em risco em relação à própria segurança, de outros pacientes e da equipe médica. Deve-se estar ciente de que qualquer droga usada no tratamento do delirium causará efeitos psicoativos, podendo obnubilar ainda mais o estado mental do paciente. Por este motivo, deve-se usar a menor dose, pelo menor período possível.
Referências
SANTOS, FS. Rev. Psiq. Clín. 32 (3); 104-112, 2005.
NICE Clinical Guidelines, No. 103. London: National Institute for Health and Care Excellence (NICE); 2023 Jan 18. ISBN-13: 978-1-4731-4953-3